Tem um índio no congá
mas é índio branco
coração vermelho e pele desbotada
Tem um índio no conga que outrora já foi outro índio
soldado romano
mulher feiticeira
General
Tem, o índio que está no conga,
palavras que atira como flechas pra caçar as almas perdidas
Tem, o índio que está no congá
faces de caçador, pajé, cacique, curandeiro
Tem voz brava de pai justo
E voz branda de mãe que ensina
O índio do congá
É pai de muitos aprendizes de índios.
Caçadores infantis de seus próprios destinos
O índio Pai, que está no congá
Ensina os filhos
Comprometendo pra isso de uma a cinco, ou todas as vértebras que o alinham.
O índio Pai, que está no congá
Não dorme até que durma o último filho
Até que de o beijo doce do beija flor
em cada índio menino
Ensina às custas de lágrimas da alma dele mesmo
Segura firme ao ver a cascata de frustração dos jovens índios
Mas sabe que a dor ensina
E que por mais que doa nele ver sofrer seus indiozinhos, sabe que sofrer é preciso
Sentado na roda ensina os curumins cada letra de sua cartilha
Mesmo com o peso das vértebras machucadas senta pra contar da vida aos pequeninos
Por que ama
E é Pai esse índio
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