Deus
criou o céu, a terra e tudo que nela vive, cada mosquinha, vaca, onça ou macaco,
criou-os um a um, com um capricho incontestável. Quando já tinha criado quase
todos os bichos da terra, e viu o quão bela e enfeitada estava, percebeu que o
céu, pobrezinho, estava quase sem nada. É certo que para ele foram reservados o
sol, as estrelas e a lua, mas ainda assim, faltava-lhe movimento.
Foi
então que Deus teve uma grande idéia e começou a criar os pássaros, no entanto
isso só foi acontecer no final do sexto dia, e o nosso senhor já estava bem
cansado, e numa solução rápida e prática, criou-os todos padronizados, cada um
com seu formato, porém todos da mesma cor.
Como
todos sabem, Deus descansou no sétimo dia, o que foi mais do que merecido,
visto todo trabalho que tinha tido até então. Dormiu feito criança, e quando
acordou, a primeira coisa de que lembrou, foi de sua última criação, que estava
longe de estar terminada, com toda a sua serenidade e sabedoria pediu aos seus
anjinhos que descessem à Terra e dessem seu santo recado:
_Vamos
queridos amigos, voem depressa, e avisem meus lindos pássaros, que daqui a três
dias vou deixá-los mais enfeitados.
Os
anjos sem demora assim fizeram. Avisaram cada um deles.
Voaram
por florestas, vales, comunicaram as aves de rapina e as que viviam perto dos
mares e lagos, foram velozes dando o recado.
Dali
a três dias começou todo o trabalho, os pássaros foram chegando e fazendo uma
grande algazarra, todos muito animados, não só por estarem na presença do todo
poderoso, que a esta altura já estava com ares de Picasso, mas também porque
ganhando novas tonalidades, não seriam mais confundidos uns com os outros e
passariam a ter estilo próprio.
O
primeiro da fila era o hiperativo beija-flor, que não dormiu a noite toda de
ansiedade, e assim que raiou o dia, voou veloz para ser o primeiro, o pequenino
não parava quieto para poder ser pintado, e o nosso divino pintor acabou
misturando todas as tintas em suas peninhas, dando-lhe um belo resultado
furta-cor.
Logo
em seguida chegou o Urubu, muito mal humorado, ele achou um absurdo ter que
acordar naquele horário, pediu que o Senhor fosse breve, estava muito
apressado, disse:
_Pode
me pintar todo de preto. Depois saiu bufando alto.
Outros
tantos foram vindo e saindo bem adornados, os canários amarelos e os papagaios
esverdeados, a arara estabanada borrou-se toda na palheta, ficou toda colorida
e saiu muito animada.
E
assim transcorreu o dia, Deus na maior animação, pois o trabalho era muito, mas
maior era a satisfação, seus singelos passarinhos agora voavam alegres
colorindo o azul do céu.
Quando
o santíssimo já estava guardando seus apetrechos de pintura, eis que surge
esbaforido o esperto rouxinol, que dormiu mais que devia, não despertou ao
nascer o sol.
Ao
ver o rouxinol Deus ficou bem preocupado, acabaram-se todas as tintas, restou
só um pinguinho de dourado, mas o bondoso mestre não desistiu, e resolveu como
só ele seria capaz de resolver, pegou o pinguinho restante, pediu que o
rouxinol abrisse o bico e pingou a tinta em sua garganta, e não pensem vocês
que o pássarinho ficou na desvantagem, ficou meio desbotada e sem graça sua plumagem,
mas quando abre o seu biquinho, canta um som encantado e então é possível ver o
pinguinho de dourado.
(Baseado em um conto popular)
Nenhum comentário:
Postar um comentário