domingo, 4 de março de 2012

Sobre[amor]

Vestia- se sempre de vento, não pela leveza ou mesmo pelo frescor, apenas pela transparência.
Escondia-se por entre árvores espessas e arbustos escuros, com medo de ver e principalmente de ser vista.
Permanecia imóvel e calada, não ousava querer ou desejar coisa alguma, apenas sobrevivia, com o mínimo de decência que se imaginava capaz. Não tinha voz, nem ousava pensar o que fosse, seu coração a muito não pulsava, apenas bombeava tímido o sangue viscoso.
Mas as noites sempre se transformam em dias, e o dia claro lava os olhos para que se possa ver.
E a fulana viu, não só viu, mas imaginou, coisa que não fazia nunca, o que seria aquilo que se movia firmemente, com passadas largas e certeiras, seria bicho como ela, ou seria planta de raiz arrancada da terra.
Não se aproximou imediatamente, primeiro observou, por dias a fio, aquele sabe-se lá o que a catucar a terra, depois espalhar sementes, viu o ser desconhecido não ser nada além de ferramenta serena em contato com terra seca. Como que por pura magia, que a coisinha nem mesmo sabia denominar, o verde apareceu onde ele tocou, flores lindas começaram a crescer, numa velocidade que nem mesmo o dia entendeu. Cresceram tanto que chegaram a tocar de leve as nuvens, e a luz do sol passou a colorir a terra ao passar por entre pétalas de colorido vivo. Os olhos da pequena brilharam cintilantes de tantas cores, e em seu peito um baticum se fez audível.
Imediatamente, uma certeza de sabe-se lá o que tomou conta de todo o seu corpo, junto a uma vontade repentina de estar perto daquele estranho ser.
Aproximou-se aos poucos, sorrateira, felina, pronta para atacar, cheirou no ar o seu cheiro de virilidade, seu desejo escorreu pelo canto sedento da boca úmida de saliva, as pupilas dos olhos, retraídas pela luz inebriante do sol, tornaram-se aos poucos pequenos e profundos poços de pura essência da alma, e num desespero, desmedida, enfim tocou.
Ele apenas observou, despido, inundado de uma excitação espinhal, aquele suave movimento dançante, também não sabia de nada, na verdade, tudo pouco lhe importava, apenas queria tocar, penetrar, esculpir gemidos e sussurros, nada lhe causava medo, então juntou-se musical ao baticum do coração da moça.
Se engoliram aos poucos, começando pelos lábios, depois engolindo-se por inteiro, foram aos poucos mudando de cor, como camaleões, conforme o sol tocava penetrante as pétalas das flores translúcidas, as cores lhes transformavam a seu bel prazer, não pararam de se engolir, assim como o sol não quis deixar de brilhar.
São o pote de ouro no final do arco-íris, inconsciência animal,  e brilham coloridos até hoje, 

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